Dicas Gerais

Nutrição da Cannabis: Orgânica, Mineral e Organo-Mineral

Cultivar cannabis é muito mais do que regar e esperar florescer. A nutrição é o coração do cultivo, e entender como cada tipo de alimento chega até a planta faz toda a diferença no resultado final. Afinal, não importa se você busca sabor, potência, sustentabilidade ou rendimento máximo — tudo começa com a forma como a planta é nutrida.

Existem três caminhos principais: orgânica, mineral e organo-mineral. Cada uma tem sua filosofia, seus prós e contras, e até mesmo a sua “personalidade”.

Nutrição Orgânica: vida no solo e sabor na flor

A nutrição orgânica parte do princípio de que a planta não se alimenta sozinha — ela depende da microbiologia do solo. Ou seja: fungos, bactérias e minhocas são tão importantes quanto os aditivos em si.

Como funciona?

Os insumos orgânicos (compostagem, húmus, bokashi, farinhas naturais) não são absorvidos diretamente pela planta. Eles precisam ser decompostos pelos microrganismos em nutrientes disponíveis. Isso cria um ciclo vivo, em que o solo passa a ser mais do que um suporte: ele se torna um verdadeiro ecossistema.

Principais insumos orgânicos e suas funções:
  • Húmus de minhoca → fonte completa de nutrientes, melhora a estrutura e retém água.
  • Composto caseiro → rico em NPK natural e microrganismos.
  • Farinha de ossos → fósforo e cálcio, essenciais na floração e raízes fortes.
  • Farinha de sangue → nitrogênio, vital para crescimento vegetativo.
  • Pó de rocha/basalto → minerais de liberação lenta (silício, ferro, magnésio).
  • Algas marinhas → bioestimulantes, hormônios naturais de crescimento.
  • Micorrizas → fungos que se associam às raízes, ampliando a absorção de nutrientes e água.
Vantagens:
  • Solos vivos = plantas mais resistentes a pragas e estresses.
  • Flores mais aromáticas e saborosas, com terpenos mais ricos.
  • Sustentabilidade real, fechando ciclos naturais.
Desvantagens:
  • Resposta lenta: se a planta mostrar deficiência, demora até corrigir.
  • Requer preparo e paciência (às vezes semanas de “cozimento” do solo).
  • Mais trabalhoso para quem quer simplicidade.

Ótimo para cultivadores que gostam de naturalidade, qualidade sensorial e têm tempo pra acompanhar o ciclo com calma.

Nutrição Mineral: precisão de laboratório

Se a orgânica é a “cozinha caseira”, a mineral é quase uma nutrição intravenosa.

Como funciona?

Aqui, os nutrientes já estão disponíveis na forma de sais solúveis (NPK, Ca, Mg, micronutrientes). A planta absorve quase de imediato, seja em solo, hidroponia ou substratos inertes como coco e perlita.

Exemplos comuns:
  • NPK líquidos → diferentes proporções para vegetativo (N alto) e floração (P e K altos).
  • Micronutrientes isolados → zinco, ferro, manganês, boro.
  • Cálcio + Magnésio (CalMag) → fundamental para evitar deficiências.
Vantagens:
  • Controle total: você decide exatamente quanto e quando cada nutriente entra.
  • Resposta rápida: ideal para corrigir deficiências sem demora.
  • Produtividade: costuma gerar rendimentos maiores e flores mais densas.
Desvantagens:
  • Mata a microbiologia do solo se usado em excesso.
  • Precisa de monitoramento constante de pH e EC.
  • Menos sustentável e dependente de produtos comerciais.

Ideal para quem quer resultados rápidos e pesados, mas exige mais disciplina.

Nutrição Organo-Mineral: o meio-termo inteligente

Muitos cultivadores hoje apostam no melhor dos dois mundos: manter o solo vivo mas reforçar com minerais quando necessário.

Como funciona?

A base é um solo rico em matéria orgânica (compostagem, húmus, bokashi), mas o cultivador adiciona sais minerais em pontos estratégicos — por exemplo, fósforo e potássio extras na floração.

Exemplo prático:
  • Solo vivo com húmus, composto e pó de rocha.
  • Suplementação mineral líquida (NPK ou CalMag) durante fases críticas.
Vantagens:
  • Solo saudável, mas sem risco da planta “passar fome”.
  • Evita deficiências típicas do orgânico puro.
  • Produção equilibrada: flores saborosas e em boa quantidade.
Desvantagens:
  • Precisa de equilíbrio: se exagerar nos sais, mata os microrganismos.
  • Pode sair mais caro se não for bem planejado.

 Perfeito pra quem quer qualidade de sabor + segurança de rendimento.

O Papel do pH na Nutrição da Cannabis

pH da Água

A água é o veículo que leva os nutrientes até as raízes. Se ela estiver fora da faixa ideal, os sais podem precipitar ou não serem assimilados corretamente.

  • Solo/Orgânico: água entre 6,0 e 7,0.

  • Hidroponia ou coco: solução entre 5,8 e 6,2.

pH do Solo

O solo é o “armazém” de nutrientes, mas o que realmente importa é como eles ficam disponíveis para a planta. O pH influencia diretamente essa disponibilidade:

  • Abaixo de 5,5 → ferro e alumínio ficam em excesso, travando outros nutrientes.

  • Acima de 7,5 → cálcio e magnésio dominam, mas zinco, fósforo e manganês ficam bloqueados.

  • Zona ótima: 6,0 a 7,0, onde quase todos os nutrientes estão equilibrados.

Como Medir e Ajustar o pH do Solo
  • Medição direta: com um medidor de solo ou extrato de terra em solução (água destilada + terra → mede-se o pH da mistura).

  • Sintomas comuns de pH errado: folhas amareladas sem padrão claro, podendo também estar enrugadas,  crescimento travado e deficiências múltiplas mesmo em solos férteis.

  • Correção:

    • pH baixo (ácido) → adicionar calcário dolomítico ou cinzas de madeira.

    • pH alto (alcalino) → usar enxofre em pó ou turfa ácida.

  • Dica prática: o ideal é ajustar o pH já na preparação do solo, mas sempre monitorar durante o cultivo, já que regas e fertilizações podem alterar esse equilíbrio ao longo do tempo.

Conclusão

Não existe uma “melhor nutrição” universal: tudo depende de objetivos, espaço, tempo e estilo de cultivo. O que importa é entender como cada abordagem funciona e escolher a que mais combina com você.

Seja no naturalismo do orgânico, na precisão da nutrição mineral ou no equilíbrio da organo-mineral, a regra de ouro é simples: observe suas plantas. Elas são quem melhor mostram se estão bem alimentadas.

Aviso Legal:
O conteúdo apresentado neste blog tem caráter exclusivamente informativo e educativo, não devendo ser interpretado como incentivo, recomendação ou prescrição de uso de cannabis. O cultivo, posse e consumo da planta estão sujeitos à legislação vigente em cada país ou estado. Somente utilize ou cultive cannabis se a legislação local permitir, ou se houver autorização legal específica para tal, como em casos de uso medicinal devidamente regulamentado.

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