Cannabis Medicinal: História, Usos e Genéticas específicas

A cannabis acompanha a humanidade há milênios, seja em rituais, na medicina tradicional ou em pesquisas científicas modernas. Hoje, com a reavaliação global de seu uso medicinal, cresce o interesse por compreender como a planta atua no corpo e como diferentes genéticas podem auxiliar no tratamento de condições como estresse, dores crônicas e insônia.
Uma jornada pela história medicinal da cannabis
Antiguidade
O uso medicinal da cannabis remonta a 2900 a.C., na China, quando o imperador Shen Nung, considerado o “pai da medicina chinesa”, já recomendava a planta para tratar dores, inflamações e problemas reumatológicos. Na Índia, a cannabis aparecia como uma das cinco plantas sagradas do Atharvaveda, usada em rituais espirituais e também para aliviar ansiedade, cólicas e distúrbios digestivos.
No Egito, papiros datados de cerca de 1550 a.C. já traziam prescrições da planta para tratar inflamações e glaucoma. Entre os persas, a cannabis era usada como analgésico natural, e no mundo árabe medieval médicos como Al-Razi descreviam suas aplicações médicas.
Idade Média e Renascimento
Durante a Idade Média, a planta continuou a ser utilizada no Oriente Médio e na Europa. O médico persa Avicena (980–1037), um dos maiores nomes da medicina medieval, registrou em sua obra “O Cânone da Medicina” a eficácia da cannabis para dores de cabeça, epilepsia e inflamações.
No século XV, viajantes e mercadores ajudaram a disseminar o uso da cannabis medicinal pela Europa, onde começou a ser cultivada também como recurso terapêutico.
Século XIX – A redescoberta no Ocidente
O ponto de virada ocorreu no século XIX, quando o médico irlandês William O’Shaughnessy, atuando na Índia colonial, observou e documentou o uso tradicional da cannabis. Ele introduziu a planta na medicina ocidental, relatando propriedades analgésicas, anticonvulsivantes e antieméticas, ampliando seu uso entre médicos europeus.
Nesse período, extratos de cannabis passaram a ser vendidos em farmácias como solução para dores, cólicas menstruais e distúrbios do sono, chegando a integrar a farmacopeia oficial de países como Estados Unidos e Inglaterra.
Século XX – Da proibição ao renascimento científico
Com o início do século XX, pressões políticas e interesses econômicos levaram à proibição da cannabis em diversas nações, culminando na inclusão da planta nas listas de drogas restritas a partir de 1930. O estigma social interrompeu quase totalmente as pesquisas por décadas.
Foi apenas nos anos 1960 que cientistas como Raphael Mechoulam (Israel) conseguiram isolar e identificar o THC e, posteriormente, o sistema endocanabinoide, revolucionando o entendimento da planta. Nos anos 1980 e 90, pesquisas começaram a revelar benefícios no controle da dor, espasmos e náuseas em pacientes com câncer e HIV.
Século XXI – A nova era da cannabis medicinal
Com a onda de legalizações em países como Canadá, Israel, Uruguai e diversos estados dos EUA, a cannabis voltou ao foco científico e terapêutico. Hoje, é estudada para uma ampla gama de condições, incluindo epilepsia refratária, esclerose múltipla, fibromialgia, ansiedade e insônia.
Avanços na genética permitiram o desenvolvimento de variedades específicas, com perfis de CBD, THC e terpenos ajustados para finalidades terapêuticas. Isso marca a transição da cannabis como “remédio caseiro” para um tratamento personalizado e respaldado por pesquisas clínicas.
Como a cannabis atua no corpo
Se por séculos o uso da cannabis medicinal foi empírico, hoje a ciência oferece uma explicação mais clara para seus efeitos. Essa chave está no sistema endocanabinoide (SEC), descoberto nos anos 1990, durante as pesquisas sobre como o THC atuava no corpo humano.
O SEC é uma rede biológica presente em praticamente todos os vertebrados, responsável por regular processos essenciais como humor, dor, sono, memória, apetite e resposta imunológica. Ele funciona como um grande mecanismo de homeostase, mantendo o equilíbrio interno do organismo diante de estímulos externos.
Como ele funciona
O sistema é composto por três elementos principais:
- Endocanabinoides: moléculas produzidas pelo próprio corpo, como a anandamida (AEA) e o 2-AG, que atuam de forma semelhante aos canabinoides da planta.
- Receptores canabinoides: as “fechaduras” biológicas que recebem esses sinais. Os mais estudados são:
- CB1, presente principalmente no sistema nervoso central, ligado a memória, dor e controle motor.
- CB2, localizado em células do sistema imunológico e tecidos periféricos, regulando inflamações e resposta imune.
- Enzimas: responsáveis por sintetizar e degradar os endocanabinoides, controlando sua ação e duração no organismo.
A interação com a cannabis
Quando usamos cannabis, seus compostos ativos interagem diretamente com esse sistema. O THC se conecta aos receptores CB1, gerando efeitos analgésicos, relaxantes e psicoativos, enquanto o CBD atua de forma indireta, modulando e equilibrando a atividade do SEC, trazendo efeitos ansiolíticos, anti-inflamatórios e neuroprotetores.
Essa interação ainda é potencializada pelos terpenos e flavonoides da planta, no chamado efeito entourage, que explica porque o uso da planta inteira pode oferecer resultados diferentes dos isolados sintéticos.
Um sistema para o equilíbrio
Em resumo, o SEC funciona como um termostato interno:
- Se há dor ou inflamação, ele age para reduzir a intensidade.
- Se há excesso de estresse, ajuda a reequilibrar neurotransmissores.
- Se há distúrbios de sono ou apetite, modula essas funções.
É essa capacidade de “ajustar o corpo por dentro” que faz da cannabis uma ferramenta tão versátil, estudada hoje para condições que vão de epilepsia a ansiedade, de dores crônicas a doenças neurodegenerativas.da dor.
Compreendido o papel central do sistema endocanabinoide e como os canabinoides interagem para restaurar o equilíbrio interno, surge naturalmente a pergunta: quais genéticas de cannabis melhor atendem cada necessidade? É aqui que entram as diferentes genéticas, resultado de séculos de seleção natural e, mais recentemente, de cruzamentos controlados feitos por cultivadores e pesquisadores. Cada variedade apresenta proporções únicas de canabinoides e terpenos, formando perfis específicos de aroma, sabor e efeito. Entender essas diferenças é fundamental para que pacientes e entusiastas possam escolher a genética mais adequada ao seu objetivo, seja ele medicinal ou recreativo.
Genéticas para estresse
Em tempos de rotina acelerada, muitas pessoas encontram na cannabis medicinal uma aliada para reduzir tensão mental e física. Genéticas equilibradas, ricas em CBD ou com terpenos calmantes, ajudam a diminuir o cortisol e desacelerar a mente.
Indicações: momentos de sobrecarga mental, ansiedade leve a moderada, tensão muscular e irritabilidade.
Super Cheese Auto
- Tipo: híbrida de predominância indica
- THC/CBD: THC médio 16–18% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, cariofileno
- Aroma/Sabor: queijo curado, notas doces
- Efeitos: relaxamento mental rápido, leveza corporal
- Uso indicado: aliviar estresse no fim do dia sem sedação intensa
Northern Lights Auto
- Tipo: indica clássica
- THC/CBD: THC 16–20% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, pineno
- Aroma/Sabor: doce, terroso
- Efeitos: relaxamento profundo, alívio da tensão física
- Uso indicado: estresse crônico, dificuldade para desacelerar
Garlicanne
- Tipo: híbrida indica dominante
- THC/CBD: THC 18–22% | CBD baixo
- Terpenos: cariofileno, mirceno
- Aroma/Sabor: alho, especiarias, terroso
- Efeitos: serenidade física e mental
- Uso indicado: tensão acumulada no corpo e mente
Purple Cookies CBD
- Tipo: híbrida
- THC/CBD: THC < 5% | CBD alto (10–15%)
- Terpenos: linalol, mirceno
- Aroma/Sabor: doce, frutado, toques de uva
- Efeitos: relaxamento sem psicoatividade intensa
- Uso indicado: estresse diário mantendo foco e produtividade
Cherry Punch
- Tipo: híbrida
- THC/CBD: THC 16–20% | CBD baixo
- Terpenos: limoneno, mirceno
- Aroma/Sabor: cereja azeda, cítrico
- Efeitos: ânimo leve seguido de relaxamento
- Uso indicado: liberar preocupações mantendo bom humor
Genéticas para dores crônicas
Dores persistentes — sejam musculares, articulares ou neuropáticas — podem reduzir drasticamente a qualidade de vida. A cannabis medicinal age reduzindo a percepção da dor e a inflamação, além de melhorar o humor e o sono.
Gorilla Glue #4
- Tipo: híbrida potente
- THC/CBD: THC 25–30% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, limoneno
- Aroma/Sabor: terroso, pinho, café
- Efeitos: relaxamento muscular profundo, analgesia prolongada
- Uso indicado: dores musculares intensas e inflamação
Gelato #33
- Tipo: híbrida equilibrada
- THC/CBD: THC 20–25% | CBD baixo
- Terpenos: limoneno, cariofileno
- Aroma/Sabor: doce, cremoso
- Efeitos: alívio da dor sem sedação excessiva
- Uso indicado: dor neuropática, fibromialgia
Chemdawg
- Tipo: híbrida
- THC/CBD: THC 18–22% | CBD baixo
- Terpenos: pineno, cariofileno
- Aroma/Sabor: terroso, químico
- Efeitos: analgesia rápida, clareza mental
- Uso indicado: enxaquecas, dores crônicas agudas
Genéticas para insônia
Para quem luta contra noites mal dormidas, certas genéticas atuam como indutoras naturais do sono, desacelerando pensamentos e relaxando profundamente o corpo.
GMO (Garlic Cookies)
- Tipo: indica dominante
- THC/CBD: THC 20–25% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, cariofileno
- Aroma/Sabor: alho, diesel, especiarias
- Efeitos: sedação intensa, relaxamento muscular
- Uso indicado: insônia severa, noites agitadas
White Widow
- Tipo: híbrida
- THC/CBD: THC 18–22% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, pineno, cariofileno
- Aroma/Sabor: terroso, madeira, picante
- Efeitos: relaxamento gradual, alívio da ansiedade noturna
- Uso indicado: insônia causada por ansiedade
Somango
- Tipo: híbrida indica dominante
- THC/CBD: THC 18–22% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, limoneno, linalol
- Aroma/Sabor: manga madura, frutas tropicais
- Efeitos: bem-estar físico e mental, indução natural ao sono
- Uso indicado: dificuldade para relaxar antes de dormir
Godfather OG
- Tipo: indica dominante
- THC/CBD: THC 25–28% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, cariofileno, humuleno
- Aroma/Sabor: pinho, terra úmida, doce
- Efeitos: sedação profunda, alívio de tensão extrema
- Uso indicado: insônia crônica, ansiedade intensa
Alien Rock Candy
- Tipo: indica dominante
- THC/CBD: THC 18–22% | CBD baixo
- Terpenos: mirceno, linalol, limoneno
- Aroma/Sabor: doce, cítrico, diesel suave
- Efeitos: relaxamento progressivo, sonolência
- Uso indicado: dificuldade para manter o sono
Conclusão
A cannabis medicinal oferece um leque amplo de possibilidades terapêuticas, mas a escolha da genética certa é fundamental para alcançar o efeito desejado. Conhecer o perfil de canabinoides e terpenos, assim como a intensidade dos efeitos, é essencial para uso seguro e eficaz. Com o avanço da pesquisa e a crescente aceitação legal, a planta volta a ocupar seu espaço histórico na medicina, oferecendo alívio para milhões de pessoas — e reconectando a ciência moderna às tradições milenares que já reconheciam seu potencial.
Aviso Legal:
O conteúdo apresentado neste blog tem caráter exclusivamente informativo e educativo, não devendo ser interpretado como incentivo, recomendação ou prescrição de uso de cannabis. O cultivo, posse e consumo da planta estão sujeitos à legislação vigente em cada país ou estado. Somente utilize ou cultive cannabis se a legislação local permitir, ou se houver autorização legal específica para tal, como em casos de uso medicinal devidamente regulamentado.